O Mestre dos Mestres

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Este Blog é dedicado às pessoas cuja motivação de vida seja o crescimento como ser humano. Admitindo-se que este passa pela opção de valorizar o SER em detrimento do TER e também pela difícil opção consciente que todos os grandes mestres pregam, que é a necessidade de priorizar em primeiro lugar o seu ser, pois este só poderá ser produtivo para os outros na medida em que estiver bem nos planos; físico, mental e espiritual.

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

OS DOIS SÓIS

"Estou postando, hoje, um texto da minha amiga Zislaine (Upa), uma antiga praticante de Aikido e companheira de viajem, uma autêntica e incansável buscadora, que atualmente já deve ter mais de 40 anos de estrada e morando em Natal, Rio Grande do Norte. Segundo eu sei, este texto foi feito, na sua maior parte, por volta dos onze anos de idade, tive o cuidado de não editá-lo, nem atualizá-lo, para não correr o risco de perder o frescor e a identidade, com a ingenuidade e a pureza do modo de olhar o mundo, de uma criança."


Vou  com meu avô ver Rainha.
Ela está no campo. 
Rainha é uma égua branca, linda, cheia de vida.
Quando a vejo, meus olhos crescem de alegria, quase não dá vontade de dizer nada.
Ela é surpreendente.
Ela é  ágil, forte, educada.. Só atende aos adultos, principalmente a voz de meu avô.
Meu avô é grande.. Eu sou pequena. Quando vamos ao campo, ele me pega pela mão e lá vamos nós.
Olho tudo a minha volta.
O sereno ainda brilha na grama do campo, os quero-queros já estão lá encima, montando guarda.
Vejo o açude.
Rainha está pastando próximo ao açude. Mais  atrás do açude, tem uma cerca de arame farpado.
E mais campo que vai ate se encontrar com o céu, lá diante... vejo os matos de eucaliptos. sinto o perfume que vem das árvores... sinto o cheiro da terra, ainda úmida, do sereno da noite.
Meu avô caminha devagar pra que eu possa acompanhá-lo. O passo dele é lento, o meu é apressado. 
O sol já tá aquecendo a manhã e secando o pasto. As nuvens vão passando, espaçadas, magras, esgarçadas e vão  se  esticando cada vez mais, se separando e se recriando em mais nuvens magras.

O Céu é azul.. O céu é encantador. 
Estou feliz. É normal estar feliz quando vou passear no campo com meu avô. 
Gosto de ver esse encontro entre ele e a Rainha. Quando ele faz: op! op! op!  com sua voz grossa, ela deixa tudo que ta fazendo e vem ao seu encontro, balançando a cabeça pra cima e pra baixo enquanto caminha, espanando as costas com seu rabo espanador. 
Tenho medo, mas ele diz:
-não precisa ter medo. o vô tá aqui.. e recomenda, só vem ao campo com o vô ou com a vó, tá certo? E se volta  para cuidar da égua.
Eu não chegaria perto de um animal assim tão grande que em encanta e me assusta.. não, mesmo..

Mas nessa manha tem algo diferente no céu. tem dois sóis.
Tem o sol de todas as manhãs, amarelo, dourado ainda meio frio como ele é de manhã, e um outro, todo vermelho, escuro como se tivesse anoitecendo.
O sol da manha e o sol to entardecer estão juntos.
O sol do entardecer esta sobre o sol de todas as manhãs.nunca tinha visto isso assim, antes... ainda de mãos dadas com meu avô, olho pra ele  para ver o que ele me diz...
Ele não diz nada, continua caminhando na direção da égua  que está pastando calmamente, próxima a cerca de arame farpado, ela  come capim, arrepia o pescoço  enquanto abana o rabo  e bate com uma das patas dianteiras no chão, certamente para espantar as moscas... mesmo parada, pastando, ela é movimento por todo o corpo.
Volto a olhar o céu..  ele está do mesmo jeito,  azul.. com o sol amarelo, mas tem esse sol vermelho também. E isto hoje chama minha atenção. meu avô larga minha mão e eu fico ali, parada, olhando, olhando... 
Então sinto a voz de meu amigo invisível, o mesmo que me ensina a falar,  vindo de dentro de meu peito e ele diz: -Procura tua escola de arte marcial. Mas, nada sei sobre arte marcial,mas ao mesmo tempo em que não sei, sei sim..
Meu amigo, que mora em meu peito e fala com voz de sentimento, chama-se Anjo da Guarda! 
Só fiquei sabendo seu nome, algum tempo depois, minha tia me contou.
Ele me diz claramente: -Procure por esse sol, procure sua escola de arte marcial, você vai precisar dela, para voltar pra casa... eu respondo a ele  que não  sei aonde ir, pois não conheço lugar algum, a não  ser  a casa de meus avôs e o campo.. ele entende e responde; -Espere, a escola achará você, será uma espera longa, não se esqueça.
Meu amigo, Anjo da Guarda, se cala.
Olho pro meu avô. ele ta ali cuidando de Rainha, escovando seu pelo e jogando água encima dela. Rainha está tomando banho! Meu avô está em seu mundo e eu, ainda não  cheguei no  dele. Ainda estou mergulhada em meu próprio mundo, onde as coisas  falam e aparecem assim, desse jeito. Um sol vermelho de fim de tarde sobre um sol amarelo , ainda frio, no céu de uma manhã no campo de minha primeira infância..
Muitos anos depois re-descubro esse sol, é o Símbolo do Japão e a escola de arte marcial , embora idas e saídas, é o Aikido.

Mas isso dai já é outra estória.

Upa

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